sei dois desertos
o deserto de areia toda a gente o conhece quer o tenha visto alguma vez ou não. há em fotografia ou na imaginação de quem calcula um areal aparentemente infidável a cercá-lo. atrai e mete medo. os medos são da vida. vencidos os medos a vida ganha brilho. a vida cresce e é para se viver. mas só aí. até vencer os medos fica-se parado a olhá-los como os navegadores olhavam o rochedo gigante que lhes parecia um monstro, na distância.
por mim, temi o mar sem deixar de o fitar. era demasiada a atracção. apetecia-me invadi-lo. entrar-lhe dentro a todos os mistérios. morrer nele se fosse caso disso (não sabia nadar), mas encontrá-lo na sua verdade cheia de história. o mar era a minha tentação.
confessei-me uma vez na vida e arrependi-me, mas nem esse pecado de ser amante do mar eu contei senão hoje. felizmente houve mais pecados que omiti. é pena que não se possa ver agora o meu sorriso de vitória.
quem prega que um adolescente é fácil de manipular não pensa no que diz. o adolescente manipula até ter o que quer. às vezes quer errado. mas é isso que é adolescer. manipular é arte dele, não de adulto. no adulto fica o tique ganho na adolescência, ou perde-se na areia do tempo...
outro segredo que desvendámos hoje: a força da adolescência é quase igual à das ondas mais fortes do deserto do mar. não é ao acaso que um jovem as desafia em desportos cada dia mais adentro dessas mãos brancas de espuma.
tal como eu. tal como eu queria entrar pelo mar adentro. abrir caminhos lá.
no final, fiquei na areia. à espera.
até chegar quem tinha de chegar.
6 Comentários:
o meu adolescente não se manipula; talvez ao contrário! Antes escalei paredes e fiz rappel. Pouco que esses desportos cheios de adrenalina não são para mim. Contudo, parece que nada aprendi.
Medo: só da angústia que corrói, aquela que nos faz embrutecer.
Medos, tenho os meus, os que restam. Venci muitos, tinha imensos quando adolescendo.
Belo o teu texto, muito intimista.
Gosto muito!
Os meus adolescentes...venceram pela força deles! Muitas vezes acho que nunca tive nada a ver com isso, tão medrosa era!
Do mar, ainda tenho medo.
Por amor, navego.
Por amor.
Bjs
Delicadas imagens para tão fortes e absolutas palavras! Obrigada pelo encontro... Abç
Zohar
dois desertos...uma canção e palavras que guardarei. O vento dos desertos não as levarão.
um texto incrivelmente bom.
bru
espero sua visita
http://muralhabru.blogspot.com
Não sei que ar me levou a um mar conhecido...
*
mais fortes do deserto do mar.
.
a juventude não é barómetro
,
xi
*
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